Amadoka

Desfigurado até ao ponto de ser irreconhecível numa das zonas de conflito no Leste da Ucrânia, o herói do romance «Amadoka» sobreviveu por um milagre. É um consolo duvidoso, pois os ferimentos graves levaram à perda total de memória: o homem não se lembra do seu nome, nem de onde vem, não recorda nenhuma pessoa próxima, nenhum fragmento da sua vida anterior. É assim que a encontra uma mulher, cujo amor e paciência são capazes de fazer milagres: alcançar as camadas mais profundas do esquecimento e das memórias, unir os pedaços dispersos da consciência desfigurada, costurar juntos a história comum.

Амадока — o maior lago da Europa, localizado no território da atual Ucrânia, mencionado pela primeira vez por Heródoto e reproduzido em mapas medievais durante vários séculos, até ao seu desaparecimento súbito e total. De que forma evaporam-se sem deixar rasto grandes lagos, como desaparecem mundos inteiros, culturas inteiras — e o que fica em seu lugar? Poderá existir uma ligação entre o Catástrofe Judaica da Europa Oriental e a destruição da intelligentsia ucraniana durante as repressões stalinistas? Poderá o esquecimento de uma pessoa estender-se por várias gerações sob a terra? Estarão os sinais e cicatrizes da memória mutilada a ligar-nos? Serão o amor e a paciência capazes de permitir tocar a consciência de outra pessoa?